Buenos Aires

A cidade de Buenos Aires (em português Bons Ares) é a capital federal da República Argentina. Junto com sua área metropolitana (Grande Buenos Aires) é a segunda maior cidade da América do Sul e um dos maiores centros urbanos do mundo.

Buenos Aires se encontra no hemisfério sul da América, a 34º 36' de latitude sul e 58º 26' de longitude oeste. A cidade, designada popularmente pelos locais como Capital Federal e cuja denominação oficial é desde 1996 Ciudad Autónoma de Buenos Aires (ou Ciudad de Buenos Aires), se estende sobre um terreno plano na margem direita do Rio da Prata de 19,4 quilômetros de norte a sul e 17,9 km de leste a oeste.

O setor de maior importância na economia é o dos serviços, que representa 73% do Produto Interno Bruto (PIB). A indústria manufatureira é o segundo, tendo gerado em 2004 $20.308 milhões - cerca de 20% do PIB.

A cidade é também o centro cultural de maior importância da Argentina e um dos principais da América Latina. A importante oferta cultural se encontra representada na grande quantidade de museus, teatros e bibliotecas, sendo alguns deles os mais representativos do país. Também se destaca a atividade acadêmica, já que algumas das universidades mais importantes da Argentina têm sua sede em Buenos Aires. Deve destacar-se que a cidade foi eleita pela UNESCO como Cidade do Design em 2005.

História da Argentina

A mí se me hace cuento que empezó Buenos Aires:
La juzgo tan eterna como el agua y como el aire.

Jorge Luis Borges, "Fundación Mítica de Buenos Aires"

A cidade foi fundada pela primeira vez em 3 de fevereiro de 1536 por Pedro de Mendoza, com o nome de Nuestra Señora del Buen Ayre. A cidade foi abandonada, arrasada pelos índios e refundada em 11 de junho de 1580 por Juan de Garay com o nome de Ciudad de la Santísima Trinidad y Puerto de Nuestra Señora del Buen Ayre.

Buenos Aires teve um escasso desenvolvimento até que em 1776 foi nomeada capital do Vice-reino do Rio da Prata. Desde esse momento começou a evoluir rapidamente devido ao impulso comercial que a beneficiou, desenvolvendo-se não apenas economicamente mas também culturalmente. A chegada de idéias liberais fomentou a criação de movimentos emancipadores, que desencadearam em 1810 a Revolução de Maio e a criação do primeiro governo pátrio.

Logo depois das guerras civis e da reunificação do país, Buenos Aires foi eleita lugar de residência do Governo Nacional, ainda que este carecesse de autoridade administrativa sobre a cidade, que formava parte da província de Buenos Aires. A necessidade do Governo Nacional de federalizá-la, somada ao movimento de tropas ordenado pelo governador da província, Carlos Tejedor, produziu em 1880 uma série de confrontos que terminariam com a derrota da província de Buenos Aires e a união da cidade ao sistema federal.


Palácio do Congresso da Nação Argentina em 1910.

Em 1882, o Congresso Nacional criou a figura dos intendentes e o Conselho Deliberante da Cidade. O intendente não era eleito por voto popular e sim designado pelo Presidente da Nação em conformidade com o Senado. O primeiro a exercer o novo cargo foi Torcuato de Alvear, designado em 1883 por Julio A. Roca.

A partir do final do século XIX e princípios do século XX a cidade sofreu importantes transformações. A prosperidade econômica que atravessava o país, somada às preparações para o I Centenário da Revolução que se celebraria em 1910 permitiram que a infra-estrutura urbana se desenvolvesse. Isto incluiu não apenas a construção de novos edifícios, praças e monumentos, mas também uma melhoria geral nos serviços públicos que lhe permitiu contar em 1913 com o primeiro metrô Iberoamericano.

Com a Reforma da Constituição argentina de 1994 a cidade pôde contar com sua própria Constituição e com um governo autônomo de eleição direta. Em 30 de junho de 1996 celebraram-se as eleições que designariam o Chefe de Governo da Cidade, assim como os legisladores que sancionariam a Constituição da Cidade. Nas eleições para o Poder Executivo saiu vencedora a fórmula radical de Fernando de la Rúa, que assim se tornava no primeiro Chefe de Governo. Com dois meses de deliberações, a Convenção Constituinte sancionou, finalmente, em 1º de outubro de 1996 a Constituição da Cidade de Buenos Aires.

Em 2003 foi aí promulgada a União Civil[2], tanto para os casamentos homossexuais como para os heterossexuais, tornando-se a primeira cidade na América Latina a oficializar este gênero de união.

Etimologia

Apesar de Juan de Garay a ter batizado de Santísima Trinidad y Puerto de Nuestra Señora del Buen Ayre, a cidade acabou por adotar Buenos Aires, através da mutação do nome do porto e primeiro nome da cidade.

Nuestra Señora del Buen Ayre era uma homenagem à Virgem da cidade italiana de Cagliari que protegia os navegantes. Este nome provinha de um templo pagão situado nas Ilhas Baleares (em latim Balnearium, ilhas "balneárias") dedicado à Deusa Branca (a divindade comum a todas as religiões da Europa pré-cristã). Quando o cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano, todos os templos foram convertidos em igrejas ou destruídos. Neste caso, foi aí colocada uma imagem da Virgem de Bonaria (deformação de "buen aire", aire sendo vento, no castelhano antigo), que terminaria dando nome à ilha de Bonaire, situada no mar do Caribe. A virgem foi rebatizada como Bon Aire devido à semelhança com a palavra Bonaria.

Geografia de Buenos Aires

A Cidade de Buenos Aires é limitada pelo Rio da Prata, o Riachuelo e pela Avenida General Paz, que separa a cidade da província de Buenos Aires.

Buenos Aires se encontra quase em sua totalidade na região dos pampas, salvo algumas zonas como a Reserva Ecológica de Buenos Aires, a Cidade Esportiva do Club Atlético Boca Juniors ou Puerto Madero, que foram emergidas artificialmente mediante o rebaixamento das calhas do Rio da Prata.


A Avenida Corrientes com o Obelisco ao fundo na Avenida 9 de Julho

Anteriormente, a região era atravessada por diferentes arroios e lagoas, alguns dos quais foram rebaixados e outros encanados. Entre os arroios de importância estão os Terceros (do Sul, do Centro e do Norte), Maldonado, Vega, Medrano, Cildañez e White.

O clima da cidade é temperado oceânico, com temperaturas médias anuais de 18°C. Durante o inverno, as temperaturas oscilam entre os 3 e 8°C, baixando, por vezes, até a 0°C. O último registro de neve remontava a 1918 até uma nevasca de média intensidade atingir toda província de Buenos Aires no dia em que se comemora a independência da Argentina, 9 de julho de 2007[3]. No verão, as temperaturas ascendem a uma média de 28°C. Apesar de não serem altas em comparação com as registradas no norte do país, provocam um sensível desconforto dada a relativamente elevada umidade ambiente.

A média de precipitações anuais é de 1,146 mm. As chuvas são mais comuns no outono, na primavera e no verão. Nos meses temperados, a precipitação carateriza-se por chuvas breves e de baixa intensidade, o que não impede o desenvolvimento normal da atividade humana.

Governo e administração

Chefatura de Governo da Cidade, sede do Poder Executivo.Jorge Telerman, Chefe de Governo de Buenos Aires.

Palácio do Congresso da Nação Argentina em 1910.A Avenida Corrientes com o Obelisco ao fundo na Avenida 9 de Julho

Chefatura de Governo da Cidade, sede do Poder Executivo.

O Poder Executivo da Cidade é composto pelo Chefe de Governo, eleito para exercer o cargo durante quatro anos, mediante o voto dos cidadãos locais. Seu substituto natural é o Vice-chefe de Governo, que é, além disso, o presidente da Assembléia Legislativa da cidade de Buenos Aires. O chefe de Governo da Cidade, em 2006, é Jorge Telerman, que, por ter sido Vice-chefe de Governo de Aníbal Ibarra, destituído em um julgamento político, iniciado logo após a tragédia da República Cromañón, assumiu o poder automaticamente.

O Poder Legislativo é composto pela Assembléia Legislativa da Cidade de Buenos Aires, integrada por sessenta deputados. Cada deputado permanece quatro anos em suas funções e a legislatura se renova por metades a cada dois anos.

 
Jorge Telerman, Chefe de Governo de Buenos Aires.

Baseando-se na chamada Lei Cafiero, a Cidade só tem jurisdição sobre assuntos da sua circunscrição territorial, contravenções e transgressões, e questões contencioso-administrativas e tributárias locais.

O Poder Judiciário é constituído pelo Tribunal Superior de Justiça, o Conselho da Magistratura, o Ministério Público e os diferentes Tribunais da Cidade. Mesmo assim, sua organização, em termos de autonomia legislativa e judicial, é menor - em termos jurídicos - que a de qualquer das províncias que compõe a República Argentina. A Justiça, em assuntos de direito comum, executada na Cidade, rege-se pelo Poder Judicial da Nação, enquanto que o controle da Polícia Federal Argentina, no território da Cidade, é exercido pelo Poder Executivo Nacional.

Buenos Aires é administrada de forma descentralizada pelos Centros de Gestão e Participação, que serão substituídos, a partir de 2007, por um sistema de Comunas.

Bairros

Legalmente, a cidade se encontra dividida em 48 bairros - unidades territoriais que derivam das antigas paróquias estabelecidas no século XIX. Algumas destas unidades territoriais existem há décadas, ainda que outras sejam mais recentes. É o caso de Parque Chas, cujos limites foram estabelecidos em 18 de janeiro de 2006, quando foi publicada, no Diário Oficial, a Lei 1.907. A cidade tem sido, tradicionalmente, dividida em várias zonas, de designação e circunscrição não oficiais, como Bairro Parque e Abasto. Na atualidade, por motivos puramente comerciais, continuam a aparecer novas áreas com nomes inéditos.

Demografia

Segundo o censo argentino de 2001, a cidade tem uma população de 2 776 138 pessoas. Mesmo assim, um informe posterior publicado pelo INDEC destinado a sanar os erros cometidos no censo estabelecia que a população da cidade se mantinha dentro dos 2,9 milhões de habitantes[4].

Buenos Aires é uma cidade com uma importante densidade demográfica que ascende a 13 679,6 hab/km². No início do século XXI, devido ao envelhecimento (por escassa fecundidade dos estratos de classe média) da população nativa portenha, à emigração para o exterior e à substitução demográfica em grande medida provocada pelas crises econômicas, a mão de obra tornou-se escassa entre os nativos, o que obrigou os empresários locais a importá-la. De fato, cerca de 40% dos "porteños" não nasceu nem na cidade nem na Grande Buenos Aires. Trata-se de população que migrou das províncias do norte argentino e de outros países, principalmente limítrofes (se calcula que 316 739 de seus habitantes nasceram no exterior[5]).

A cidade tem um nível de delinquência relativamente alto, com uma taxa de 6 925,34 delitos anuais para cada 100 000 habitantes. Ainda assim, aproximadamente três quartos destes delitos são contra a propriedade, sendo a taxa de homicídios baixa: 4,57 homicídios anuais para cada 100 000 habitantes.